A Reinvenção Permanente
Qualquer visita ao casarão rodeado pelo jardim e incrustrado em meio aos edifícios modernos da avenida Paulista incita a imaginação e levanta inúmeras perguntas. Quem o terá construído e por quê? Como terá sobrevivido à verticalização da avenida? Por que hoje abriga um centro de poesia e literatura? Como se mantém? O visitante se vê inundado de questões sobre o significado da Casa das Rosas, seja histórico e arquitetônico, seja como instituição cultural.
Este livro surge para ajudar a responder tais questões. A jornalista Ana Maria Ciccacio realizou uma pesquisa inédita, reunindo documentos e entrevistando desde parentes dos antigos moradores até os atuais gestores da Casa, passando pelos principais atores do seu rico e, outrora, nebuloso passado. Seu trabalho incansável, no entanto, em nada resultaria se não houvesse grande receptividade de todos os entrevistados. Somaram-se aos seus esforços a colaboração de toda a equipe da Casa das Rosas e da Poiesis – Organização Social de Cultura, principalmente o diligente gerenciamento dos trabalhos por Carmem Beatriz de Paula Henrique, o seguro direcionamento editorial de Reynaldo Damazio e o trabalho gráfico sempre brilhante de Angela Kina.
Resulta deste trabalho não apenas a elucidação de inúmeras dúvidas de caráter factual e histórico que dificultavam um olhar preciso sobre o passado da Casa das Rosas, mas também a possibilidade de se vislumbrarem constantes e tendências na história do espaço. A resistência é uma das palavras-chave que iluminam sua trajetória. Resistência à verticalização, resistência de um espaço de arte e poesia em pleno coração do capitalismo mais voraz. E para resistir, a Casa das Rosas teve que se reinventar. De moradia decadente a uma das mais felizes soluções para a preservação sustentável do patrimônio arquitetônico neste país. De instigante galeria de artes plásticas a primeiro centro dedicado à poesia no Brasil.
Esta reinvenção permanente da Casa das Rosas, se possibilitou sua continuidade como centro cultural, também trouxe o malefício de uma sucessão de rasuras. Cada gestão que assumia a Casa a encontrava vazia e começava o seu trabalho praticamente do zero. E nisso reside a terceira virtude maior deste livro. Além de iluminar o passado e revelar linhas nítidas na trajetória da instituição, colabora para evitar a rasura do futuro que a tudo quer devorar: casas, jardins, palavras, gestos, poesia.
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