Hugo Ball
Como conquistar a eterna bemaventurança? Dizendo Dadá. Como ser célebre? Dizendo
Dadá. Com nobre gesto e maneiras finas. Até à loucura, até perder a
consciência. Como desfazer-nos de tudo o que é enguia e dia-a-dia, de tudo o
que é simpático e linfático, de tudo o que é moralizado, animalizado,
enfeitado? Dizendo Dadá. Dadá é a alma-do-mundo, Dadá é o Coiso, Dadá é o
melhor sabão-de-leite-de-lírio do mundo. Dadá Senhor Rubiner,
Dadá Senhor Korrodi, Dadá Senhor Anastasius
Lilienstein.
Quer dizer, em alemão: a hospitalidade da Suíça é incomparável, e em estética
tudo depende da norma.
Leio versos que não pretendem menos que isto: dispensar a linguagem. Dadá
Johann Fuchsgang Goethe. Dadá Stendhal. Dadá Buda, Dalai
Lama, Dadá m'Dadá, Dadá m'Dadá, Dadá mhm'Dadá. Tudo depende da ligação e de esta ser
um pouco interrompida. Não quero nenhuma palavra que tenha sido descoberta por
outrem. Todas as palavras foram descobertas pelos outros. Quero a minha própria
asneira, e vogais e consoantes também que lhe correspondam. Se uma vibração
mede sete centímetros, quero palavras que meçam precisamente sete centímetros.
As palavras do senhor Silva só medem dois centímetros e meio.
Assim podemos ver perfeitamente como
surge a linguagem articulada. Pura e simplesmente deixo cair os sons. Surgem
palavras, ombros de palavras; pernas, braços, mãos de palavras. Au,
oi, u. Não devemos deixar surgir muitas palavras. Um verso é a oportunidade de
dispensarmos palavras e linguagem. Essa maldita linguagem à qual se cola a
porcaria como à mão do traficante que as moedas gastaram. A palavra, quero-a
quando acaba e quando começa.
Cada coisa tem a sua palavra; pois a palavra própria transformou-se em coisa.
Porque é que a árvore não há-de
chamar-se plupluch e pluplubach depois da chuva? E porque é que raio há-de
chamar-se seja o que for? Havemos de pendurar a boca nisso? A palavra, a
palavra, a dor precisamente aí, a palavra, meus senhores, é uma questão pública
de suprema importância.
Zurique, 14 de Julho de 1916