sábado, 8 de fevereiro de 2014
Sobre a literatura, o prêmio nacional de literatura e os raros consolos do ofício (trecho)
6 de fevereiro de 2014 às 15:57
ROBERTO BOLAÑO
Tradução Alessandro Atanes
... Há pouco, Nélida Piñón, celebrada romancista brasileira e assassina em série de leitores, disse que Paulo Coelho, uma espécie de Barbusse e Anatole France em versão telenovela de bruxos cariocas, devia ingressar na Academia Brasileira pois havia levado o idioma brasileiro a todos os cantos do mundo. Como se o "idioma brasileiro" fosse uma ciência infusa, capaz de suportar qualquer tradução, ou como se os sofridos leitores do metrô de Tóquio soubessem português. Além disso, o que é isso de "idioma brasileiro"? Ideia tão desmedida como falar de um idioma canadense ou australiano ou boliviano....
Onde estávamos? Em Coelho e a Academia e a cadeira vaga que finalmente lhe deram, entre outras coisas, por popularizar o "idioma brasileiro" aos quatro cantos do mundo. Francamente, lendo isto alguém poderia chegar a pensar que Coelho tem um vocabulário (brasileiro) comparável ao "idioma irlandês" de Joyce. Mas não. A prosa de Coelho, também no que diz respeito à riqueza léxica, de vocabulário, é pobre. Quais são seus méritos? Os mesmos de Isabel Allende. Vende livros. Isto é: é um autor de êxito. E aqui chegamos a um dos miolos da questão. Os prêmios, as cadeiras (das Academias), as mesas, as camas, até as penicos de prata são, necessariamente, para os que têm êxito ou se comportem bem como funcionários leais e obedientes.
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Texto sobre a o Prêmio Nacional de Literatura do Chile e a possibilidade de ser outorgado a Isabel Allende e seu "glamour de sul-americana na Califórnia", publicado em "Entre paréntesis" (Anagrama, 2004), reunião de seus textos feitos para a publicação em jornais.
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